sexta-feira

Os Quatro Amigos Harmoniosos

Há muito tempo, numa terra distante, uma ave exausta deixou cair uma semente de uma árvore exótica. A semente, foi plantada por um macaco num buraco escavado por um coelho e, á medida que crescia, protegida por um elefante que a regava e a abrigava do sol do meio-dia.
A árvore cresceu e transformou-se numa dádiva de abundância.
 

Um dia, na floresta, o elefante, o coelho, o macaco e uma perdiz, discutiram sobre a posse da árvore, centro de vida onde todos os animais vinham alimentar-se.

O elefante dizia que era dele porque a tinha visto primeiro. O macaco dizia que era dele porque se alimentava, todos os dias, dos seus frutos. O coelho argumentava que era no seu âmago que tinha sustentado a sua casa, debaixo do chão.
 
 

Uma perdiz, que tinha estado a observar a discussão disse que a árvore não pertencia a nenhum deles. Mas sim a todos. Contou-lhes, ainda, de um pequeno caroço, amargo, que tinha cuspido quando comeu um fruto numa terra distante.
 
 

Elefante, macaco e coelho, todos se inclinaram perante a perdiz e olharam-na como seu irmão mais velho. Os quatro animais tornaram-se amigos e decidiram partilhar a árvore juntos em harmonia pacífica desfrutando da fragrância, dos frutos, da sombra e da estrutura da árvore da vida.
 
 

Outros animais da floresta muitas vezes os viram juntos com a perdiz sobre o coelho que era suportado pelo macaco que viajava sobre o elefante. Por isso, todos, lhes chamavam os quatro irmãos harmoniosos. Os quatro animais eram vistos como exemplo e a paz regressou à floresta.
 
 
 
 
 

 
 
 

terça-feira

O ENGANO

Esta lenda Vietnamita tem como tema a ilusão que consiste em tomar o mundo "das sombras" pelo mundo real, um equívoco que pode ter consequências trágicas.

Era uma vez uma mulher cujo marido fora enviado, como soldado, para um posto distante de fronteira. Nesse tempo, as comunicações eram muito difíceis e, durante três anos em que ele estivera ausente, ela só raramente recebia notícias do seu amado.

Uma noite quente, cosia ela á luz de uma pequena lamparina, junto do seu filho adormecido quando estrondeou uma tempestade. Um golpe de vento extinguiu a fraca chama da lamparina, ribombou um trovão, a criança acordou e teve medo. A mãe reacendeu, com dificuldade, a pequena mecha encharcada de óleo e, para serenar o
seu filho, mostrou-lhe a sua própria sombra na parede e disse:
- Nada temas, meu filho, o pai está ali e vela por ti.
 A criança olhou e deixou de chorar. No dia seguinte, no momento de ir para a cama, reclamou pelo seu pai. A mãe sorriu, feliz, e colocou-se de forma a que a sua silhueta fosse bem visível aos olhos do filho. Ensinou-o a juntar as mãos antes de se inclinar diante da sombra para dizer: "Boa-noite, pai".
O hábito pegou, rapidamente e todas as noites o mesmo rito se repetia.

Finalmente, o marido regressou ao fim de longos sete anos.
A mulher grata, pela providência lhe ter acariciado com o seu marido são e salvo, quis fazer oferendas aos antepassados. Foi ao mercado e ao templo, confiando o filho aos cuidados do esposo. Durante a sua ausência, este brincou com grande carinho, com o seu filho e disse-lhe que o tratasse por pai. Para sua grande surpresa, a criança recusou-se a fazê-lo, explicando-lhe que não o podia ser seu pai, já que ele próprio dizia boas-noites, a este último, todos os dias ao deitar.

Pensando que a sua mulher lhe tinha sido infiel, o homem abandonou a casa sem dizer uma palavra, profundamente magoado. Desesperada, a pobre mulher, pôs fim aos seus dias lançando-se ao poderoso Mekong.

Ao ser informado da sua morte, o marido regressou a casa assolado pela tristeza e pela dúvida. Ao chegar a noite, acendeu a lamparina, que projetou a sua sombra na parede. Para sua grande consternação, viu o seu filho juntar as mãos e inclinar-se diante da sombra.
Só compreendeu o seu trágico erro, quando já era tarde de mais...

http://en.wikipedia.org/wiki/Vietnam_Veterans_Memorial

quinta-feira

A Pedra

Era uma vez uma aldeia, numa ilha que acordou, um dia, com uma enorme montanha a pairar no ar, mesmo por cima da cabeça de todos. Era um rochedo colossal, cujo perímetro cobria a aldeia na sua totalidade, não deixando nada impune à tragédia da sua queda. No entanto, apesar do seu prodigioso tamanho, pairava no ar com a leveza de uma pena, etéria, sem se mover um mílimetro.Nem os caprichos do tempo pareciam suficientes para importunar este fantástico objeto.



Quanto ao amanhecer humano, esse excitou o temor e pânico. Todos apressaram-se a fugir da aldeia, como insetos quando se lhes retira a sombra segura da pedra onde vivem. As mães deixaram o leite no lume, os mais novos Gritavam perante o susto dos pais, os calçados ajudavam os descalços. Os que de joelhos pediam perdão dos seus pecados perante a certeza do Juízo Final eram arrastados pela anarquia dirigida para outra salvação, mais terrena.


Todos atulhados em pequenas cascas flutuantes, poderam racionalizar o incompreensível contemplando a monstruosidade daquele calhau a levitar por um fundamento surreal.- Iriam todos morrer! Rematando este conclusão com gritos e chouros num requiem de hesteria.
Contúdo o tempo continuou a sua caminhada inexorável, e ao meio sol o calhau teimava em não cair. Assim o terror inicial esvaneceu-se, pouco a pouco, o medo deu lugar áquela curiosidade adaptativa que nos faz humanos. Que força extraordinária mantinha tamanha massa de rocha assim, suspensa? E à sétima lua todos estavam, de novo, na ilha. Uns dormiam, outros sobressaltados fugiam repentinamente, de noite, julgando algum ruído, algum movimento da gigantesca tragédia. O que não tinha explicação foi analisado, dissecado e certificado.
Até as proprias nuvens pareciam ter aceite a sua presença, rodeavam a anormalidade logo pela manhã, num imaculado anel branco. Até lembrava um pequeno planeta multicolor refletindo as diferentes incidências do sol ao longo do dia. Até o cume gelou. A natureza aceitou-o metamorfosiando a feieza desta massa num jardim aluviado de cor.
Já ninguém acordava em agonía. Os artistas pintavam e esculpiam, os poetas declamavam, os crentes adoravam e o olhar da vil criatura viu no viso do calhau o reflexo do seu sucesso.
Com o tempo, vinham em cruzeiros peregrinações e onde estava o calhau nasceu um polo de atividade mundial. Religião, cultura, lazer tudo isto se centrava em céleres inaugurações. Organizavam-se escursões ao hotel no cume, onde tinham até pista-de-esqui!
Esta atracção imensa era magnética para o desejo, milhões amontoaram-se para viver, ver, tocar ou cheirar este calhau. Toda a Humanidade reuníu, em perfeita comunhão, os seus credos, medos e esperanças, á volta desta montanha. Vendiam até pedacinhos do calhau que se diziam afrodisíacas.
Um dia a pedra caíu.

O Escorpião e o Sapo

Um Escorpião precisava atravessar o lago do Sapo, pediu-lhe para o levar nas suas costas até á outra margem, visto não saber nadar.
- Como sei que não me fazes mal? Perguntou o Sapo.
- Se o fizer, morreremos os dois. Respondeu o Escorpião.

O Sapo refletiu na verdade destas palavras e aceitou levar o Escorpião no seu dorso. Contudo, no decorrer da viagem, o Escorpião atacou selvaticamente o Sapo e ferrou-o com o seu fatal veneno. O Sapo em desespero perguntou porquê, assim iriam morrer os dois, ao que o condenado Escorpião respondeu: PORQUE SOU UM ESCORPIÃO.

Loucura


Que natureza cruel nos domina, geradora de tanto sofrimento. Quanto sangue é necessário para alimentar o jardim da nossa vaidade, do nosso sagrado interesse. Não se perguntem porque é que alguns de nós enlouquecem, Não! perguntei porque é que a maior parte não o faz.

sexta-feira

A Formiga e a Cigarra

Ao que a cigarra
nunca se agarra,
a pobre formiga
sempre se obriga.

Uma canta e assobia,
sempre a laurear;
a outra jamais se desvia
do diário labutar.

Depois repete-se o mesmo
cada Inverno:
a formiga no torresmo,
a cigarra no inferno.

João Manuel Ribeiro in Poemas da Bicharada.

segunda-feira

Urashima, O castigo da curiosidade

Os japoneses ainda contam esta história aos seus filhos para evitar que sejam demasiado curiosos. Mas esta história tem muita moral.


Numa ilha do Japão vivia um pobre pescador chamado Urashima Taro, que apesar de ter uma vida muito humilde era bondoso e de bom coração. O seu lugar perferido era no mar longe da costa e de todas as pessoas. Numa certa ocasião, enquanto prendia o seu barco no porto, viu um grupo de crianças que martirizavam, na praia, uma tartaruga marinha que tinha ficado presa numa rede de pesca. Comovido com o sofrimento do animal, ralhou com as crianças e levou a tartaruga de volta para o oceano, onde a libertou.

- Sou filha do rei dos mares - disse a tartaruga para surpresa de Urashima - e quero agradecer-te, por isso convido-te a vires comigo até ao reino das profundezas, onde poderás viver, para sempre, como um rei.

Urashima estava cansado daquela vida de pobreza e servidão aos ricos do seu mundo, por isso não hesitou, subiu para a carapaça da tartaruga que, rapidamente, chegou a uma extraordinária cidade no abismo do oceano, cheia de tesouros e riquezas. Aí a tartaruga transformou-se na mulher que ele sempre sonhára. Passou ali algum tempo e, embora fosse tivesse a viver um sonho, o pescador começou a sentir saudades de casa, saudades da sua cidade e pediu para regressar. A filha dos mares não o prendeu, antes entregou-lhe uma estranha arca e recomendou-lhe que jamais deveria abri-la.

- Se me desejas voltar a ver em caso algum deves saber o conteúdo desta arca, pois perder-me-às para sempre - disse a tartaruga quando o depositou na praia onde se tinham encontrado. Urashima dirigiu-se, a pé, em direcção á sua cidade, ansioso por contar a todos as riquezas que possuía, mas algo estranho estava a acontecer: tudo tinha mudado, os que eram crianças quando os deixou eram agora anciãos que mal conheceu; as plantas pequenas nas margens das estradas eram agora árvores frondosas; os seus amigos tinham todos morrido e a sua família tinha se dispersado para outros lugares. Percebeu que este mundo não se lembrava mais dele.

Urashima estava sozinho e compreendeu que embora no abismo aquatico tivessem, apenas passado breves dias, no seu mundo tinham passado décadas. Perdido e desesperado para regressar para a única realidade que para ele, ainda, existia, foi para a praia para encontrar a tartaruga e regressar para junto da sua amada. Contudo a tartaruga demorava, então Urashima, naufragado na desesperança e sem entendimento, partiu a arca proibida e lá dentro viu um cadáver de um velho pescador. Morreu de velho em poucos minutos.

quinta-feira

O Agricultor e o desejo

Este conto é uma história moral, que contava a minha avó, aborda o paradoxo da inveja que pode incentivar á acção positiva e ao sucesso genuíno, mas na maioria das vezes, leva á cegueira e á crueldade irracional.

Conto-o á minha maneira, mas dedico-o á minha grande avó.

Era uma vez um agricultor, muito trabalhador, que se esforçava pesadamente para conseguir o pão de cada dia. A sua existência era um suplício, um tormento e, o pouco que conseguia, regava-o com suor e sangue. Porém, este homem diligente era uma pessoa rude e fria, calejado nas mãos pela enxada e no espírito pela solidão, não nutria nenhuma empatia, nem pelos vizinhos agricultores nem por qualquer outra pessoa. Não tinha família, nem amigos e vivia uma vida dura e despida de afecto.
Além disso e apesar de ser pobre, alimentava muitas disputas por terras e propriedades o que lhe granjeava a fama de invejoso e mal-humorado.

O destino, que joga com a alma dos homens como se de berlindes, nas mãos de uma criança, se tratassem, teve pena do agricultor e pelas circunstâncias mais extraordinárias deu-lhe a oportunidade de se redimir com a vida e com ele próprio.
Estava o homem a descansar na frescura de uma sombra depois do impiedoso verão obrigar à pausa, quando apareceu uma criança. O homem ficou inquieto com aquela aparição, uma criança assim, no meio do nada, no fim do mundo dos campos de trigo.
- Que fazes aqui miúdo, estás perdido? - perguntou.
- Não, não estou perdido e sei muito bem o que faço aqui - respondeu a criança. Vim porque me comoveste, por seres tão triste, por isso, estou perante ti para te conceder um desejo, o que desejares eu te proporcionarei. Quando o sol estiver novamente nesta posição - acrescentou - comparecerei igualmente neste sítio para que me digas o que desejas. Só te imponho uma condição, o que pedires concederei o dobro ao teu inimigo. E dizendo isto evaporou-se como o fumo branco no ar quente do verão.
O homem ficou aterrorizado, mas á medida que tentava compreender o que tinha visto e ouvido com os sentidos que a terra irá comer, compreendeu que qualquer que fosse o poder que tinha testemunhado, não era seguramente deste mundo e pelas coisas do além, tinha esta alma muito temor e respeito! Ficou, assim, agarrado á terra por longos minutos, discorrendo nas palavras daquela criança o o vislumbre de ter tudo o que sempre tinha sonhado, possuir o bilhete da fortuna que o libertaria daquela, amargurada, vida cheia de dor... mas, magicava na sua mente de campónio, também o seria para o seu vizinho. Ele o seu pior inimigo que o arrastava em bancos e letras judiciais pelo qual sentia tanto ódio! Sem dúvida um canalha da pior espécie!

Planeava - vou pedir os maiores tesouros só para mim, mas o pulha do meu vizinho terá mais que eu sem merecer,... Imaginava - Vou querer as mulheres mas belas, mas ele terá o dobro das mulheres e, ainda, mais belas,.... Concebia - E se reclamar uma vida confortável, uma vila, para gerir, um reinado para reinar, uma mundo para dominar, ele terá sempre mais que eu, sem nada fazer!
Nestes pensamentos o homem deambulava sem dar conta do tempo ou do espaço, não comeu, nem dormiu até que chegou a hora do reencontro.
No preciso momento combinado apareceu um velho avelhantado, de bengala, sujo e mendigo.
- O que desejas então?
- Antes disso, posso te colocar uma questão? perguntou o agricultor.
- Sim, podes
- Diz-me quem és tu?
- Eu sou auspício da escolha, o génio da arvore que tu vais erigindo - mas diz-me, sem demoras, o que queres?
- Arranca-me um olho!

quarta-feira

Euromilhões já cá canta!

Como a boa disposição não paga imposto.... por favor não tentes isto em casa!!!!

Receita para ganhar no jogo.

"Manda-se fazer uma figa de azeviche, recomendamos essencialmente que a façam com uma faca nova, e de aço. Leva-se depois a figa ao mar, suspensa numa fita de Santa Lúcia, e passa-se com ela sete vezes nas espumas das ondas.Enquanto assim se procede, reza-se três vezes o Credo, muito baixinho, e oferece-se à Santa Lúcia nema vela de quarta. O jogador tra-la-á sempre ao pescoço, quando jogar; tendo, porém, o cuidado de não se deixar cegar pela ambição nem arrastar pelo chorrilho, se o jogo fôr campista".

Amadeo de Santaner in "O Livro da Bruxa ou a Feiticeira de Évora"



A origem das espécies - Conclusão

É difícil encontrar um texto mais importante que este:


"É extraordinário contemplar uma encosta luxuriante, revestida por muitas plantas de diversos tipos, com aves a cantar nos arbustos, com vários insectos a rodopiar pelo ar e com vermes a rastejar pela terra húmida, e pensar que todas estas formas tão elaboradamente construídas e diferentes entre si, dependendo umas das outras de forma tão complexa, têm sido produzidas por leis que actuam em nosso redor. Estas leis, no seu sentido mais lato, consistem no Crescimento com Reprodução, na Herança, que está implícita na Reprodução, na Variabilidade, resultante da acção indirecta e directa das condições externas de vida e do uso e desuso, na Taxa de Incremento, tão elevada a ponto de conduzir à Luta pela Sobrevivência e, por consequência, à Selecção Natural que impõe a Divergência de Caracteres e a Extinção das formas menos aperfeiçoadas.

O resultado directo da natureza, que se traduz pela fome e pela morte, é pois o facto mais sublime que podemos conceber, ou seja, a produção dos animais superiores. Há grandiosidade nesta visão da vida, com os seus diversos poderes originalmente concentrados num pequeno conjunto de formas ou mesmo numa única forma.

Enquanto este planeta continuava a girar de acordo com as leis fixas da gravidade, uma quantidade infinita de formas tão belas e admiráveis, emergidas de um começo tão simples, evoluía e continua, ainda hoje, a evoluir."



Charles Darwin (1809-1882) in "A origem das Espécies"