Este conto é uma história moral, que contava a minha avó, aborda o paradoxo da inveja que pode incentivar á acção positiva e ao sucesso genuíno, mas na maioria das vezes, leva á cegueira e á crueldade irracional.
Conto-o á minha maneira,
mas dedico-o á minha grande avó.Era uma vez um agricultor, muito trabalhador, que se esforçava pesadame
nte para c
onseguir o pão de cada dia. A sua existência era um suplício, um tormento e, o pouco que conseguia, regava-o com suor e sangue. Porém, este homem diligente era uma pessoa
rude e fria,
calejado nas mãos pela enxada e no
espírito pela solidão, não nutria nenhuma empatia, nem pelos vizinhos agricultores nem por qualquer outra pessoa. Não tinha
família, nem amigos e vivia uma vida dura e despida de afecto.
Além disso e apesar de ser pobre, alimentava muitas disputas por terras e propriedades o que lhe
granjeava a fama de invejoso e mal-humorado.
O destino, que joga com a alma dos homens como se de berlindes, nas mãos de uma criança, se tratassem, teve pena do
agricultor e pelas
circunstâncias mais
extraordinárias deu-lhe a oportunidade de se redimir com a vida e com ele
próprio.
Estava o homem a
descansar na frescura de uma sombra depois do impiedoso verão obrigar à pausa, quando apareceu uma criança. O homem ficou inquieto com aquela aparição, uma criança assim, no meio do nada, no fim do mundo dos campos de trigo.
- Que fazes aqui miúdo, estás perdido? - perguntou.
- Não, não estou perdido e sei muito bem o que faço aqui - respondeu a criança. Vim porque me comoveste, por seres tão triste, por isso, estou perante ti para te conceder um desejo, o que desejares eu te proporcionarei. Quando o sol estiver novamente nesta posição - acrescentou - comparecerei igualmente neste sítio para que me digas o que desejas. Só te imponho uma condição, o que pedires concederei o dobro ao teu inimigo. E dizendo isto evaporou-se como o fumo branco no ar quente do verão.
O homem ficou aterrorizado, mas á medida que tentava compreender o que tinha visto e ouvido com os sentidos que a terra irá comer, compreendeu que qualquer que fosse o poder que tinha testemunhado, não era seguramente deste mundo e pelas coisas do além, tinha esta alma muito temor e respeito! Ficou, assim, agarrado á terra por longos minutos, discorrendo nas palavras daquela criança o o vislumbre de ter tudo o que sempre tinha sonhado, possuir o bilhete da fortuna que o libertaria daquela, amargurada, vida cheia de dor... mas, magicava na sua mente de campónio, também o seria para o seu vizinho. Ele o seu pior inimigo que o arrastava em bancos e letras judiciais pelo qual sentia tanto ódio! Sem dúvida um canalha da pior espécie!
Planeava - vou pedir os maiores tesouros só para mim, mas o pulha do meu vizinho terá mais que eu sem merecer,... Imaginava - Vou querer as mulheres mas belas, mas ele terá o dobro das mulheres e, ainda, mais belas,.... Concebia - E se reclamar uma vida confortável, uma vila, para gerir, um reinado para reinar, uma mundo para dominar, ele terá sempre mais que e
u, sem nada fazer!
Nestes pensamentos o homem deambulava sem dar conta do tempo ou do espaço, não comeu, nem dormiu até que chegou a hora do
reencontro.
No
preciso momento combinado apareceu um velho avelhantado, de bengala, sujo e mendigo.
- O que desejas então?
- Antes disso, posso te colocar uma questão? p
erguntou o agricultor.
- Sim, podes
- D
iz-me quem és tu?
- Eu sou auspício da escolha, o génio da arvore que tu vais erigindo - mas diz-me, sem demoras, o que queres?
- Arranca-me um olho!